domingo, 16 de outubro de 2011

"Econontifada" gringa e em 82 países contra os efeitos perversos do capitalismo




A Espanha brilhou no topo dos 82 países que se manifestaram no Dia dos Indignados.
E das 951 cidades que aderiram com mais ou menos intensidade ao Dia dos 99%, Madri e Barcelona foram exemplares. Juntaram milhares de pessoas nas ruas, sem nenhum incidente lamentável. A democracia funcionou do começo ao fim das passeatas.


De Tóquio a Nova Iorque, o Dia dos Indignados só deixou marca vergonhosa em um patrimônio histórico-cultural da humanidade.
Em Roma, a praça San Giovanni foi transformada em campo de batalha por fascistas encapuzados que atacaram o Corteo degli indignati - Passeata dos Indignados, sequestrando a cidade da calma e destruindo tudo o que via pela frente. A praça San Giovanni foi devastada. Muitas perdas, muitos danos e muitas questões sobre quem está atrás desta investida para-militar contra os manifestantes e contra a própria cidade.




Em Seul,
na Coréia do Sul












Em Sydney, na Austrália












Em Londres, na St Paul's Cathedral









Occupy Wall Street, na Times Square de Nova Iorque






Quem diria que um movimento revolucionário que começou em um pequeno país árabe chamado Tunísia fosse inspirar revoltas ocidentais e atingir até os Estados Unidos?
O movimento Occupy Wall Street, que começou em Nova Iorque, continua e se alastra por muitos estados.


Que 1% da população dos Estados Unidos controla 40% da riqueza do país, já se sabia.




Que de ano em ano aumenta a distância que separa esta super-minoria super-rica dos demais 99% que suam a camisa e apertam os cintos para pagar as contas no fim do mês, também já se sabia.




Que nosso vizinho lá do alto tem um déficite de U$14.3 trilhões, também é sabido.


Que Wall Street foi resgatada em setembro de 2008 por Washington de seu próprio sequestro monetário, todos viram.

Que Washington deixou todos os lesados desabrigados, foi uma medida ressentida.


Que Wall Street era e é o símbolo internacional do capitalismo selvagem, ninguém duvida.


Por que os cidadãos que ficaram calados durante as últimas quatro décadas, que desde a mobilização universitária contra a guerra do Vietnã são passivos, acordaram de repente para a resistência ativa?
Por que a intifada árabe mostrou que tudo é possível e atingiu os estadunidenses como uma bofetada para que acordem da letargia e reivindiquem o que lhes é devido.


Occupy Wall Street em Nova Iorque vem se expandindo como o fogo de subterfúgios que o capitalismo usa para produzir cada vez mais pobres e ricos cada vez mais opulentos.


Para se entender o Basta cidadão que se alastra pelos EUA é só ver os números, as cifras e a queda dramática da qualidade de vida dos 99% que estão botando a boca no trombone.
De 1999 a 2009, não houve nenhum aumento na criação de emprego, sendo que nas décadas precedentes o número foi de pelo menos 20% por década.
Em 2010, a média de salário anual da classe média era de U$48.445, uma perda de 7% em relação a dez anos antes. Uma perda de U$3.719 que leva o país de volta a 2006.
A classe média alta que ganhava U$141.032 passou a ganhar U$138.923.
Quanto aos pobres, perderam 12% da renda, passando de uma média de U$13.538 a U$11.904.
Enquanto a renda dos 90% desmoronava e dos 9% baixava em vez de aumentar, os 1% lá do alto desfrutaram de um acréscimo de 65% de todo ganho de crescimento que o país registrou nos últimos anos.
O último recenciamento constatou um aumento de 46 milhões de pobres que serão 50 milhões em 2015 e 10 milhões a mais em 2017.
Abaixo destes, há os chamados deep poor, os 20.5 milhões que vivem muito abaixo da linha de pobreza e representam 6.7% da população.
Nem os subúrbios asseptizados à Desperate Housewives, símbolo de prosperidade, vêm sendo poupados. Quinze milhões destes suburbanos caíram no solo de pobreza.
O que no frigir dos ovos indica que nos últimos dez anos, houve um empobrecimento de 53% dos habitantes.
O que em termos econômicos significa, além da pauperização da população, uma queda de dominó econômico - queda de consumo, queda em vendas, crise de fabricantes e varegistas, cortes de despesa, desemprego, etc.
15.1% dos estadunidenses vivem oficialmente abaixo do solo de pobreza definido pelo Banco Mundial.
16.4 milhões de crianças estadunidenses vivem na pobreza, sendo que 22% delas abaixo do solo oficial.
A perda de poder de compra das famílias hispânicas foi de 66%; das negras, de 53%, e das brancas, 16% - vale lembrar que em 2009 a média salarial de uma família branca era de U$113.149; negra, U$5.677; hispânica, U$6.325.
O pior de tudo é o mercado de trabalho.
O déficite atual é de 11.2 milhões de empregos.
O único jeito do governo reverter o declínio seria criar 280 mil empregos por mês. O que no contexto de crise interna e de credibilidade internacional do EUA parece impossível.
Barack Obama tem sido um fiasco em política internacional, mas justiça seja feita, tem feito o possível para corrigir a política iníqua de seus antecessores na Casa Branca. Atacou a Seguridade Social, que Bill Clinton prometeu e não ousou atacar, para que seus condidadãos não morram à míngua hospitalar, estabeleceu imposto sobre as grandes fortunas e outras coisas que apesar de urgentes e necessárias, são insuficientes para recolocar o trem EUA em trilhos pra lá de estragados.
Vendo a onda de protesto de Occupy Wall Street (que por enquanto se restringe à classe média) me lembro do que um colega estadunidense disse vinte anos atrás quando deixou o Brasil para retornar à matriz de seu jornal em Nova Iorque: Falam sobre a violência no Brasil, mas perto da nossa é quase irrelevante porque o brasileiro é de natureza cordial e pacífica. No dia em que os Estados Unidos atingir o nível de pobreza em que o Brasil se encontra agora, vai pegar fogo porque meus compatriotas são alimentados pela lei do mais forte e são potencialmente capazes de atos de violência cinematografáfica.
Espero que ele esteja errado.

Como a marioria da mídia dos Estados Unidos trata a intifada nacional como se os manifestantes fossem um bando de vagabundos, para pôr os pingos nos iis, deixo a palavra aos colegas Naomi Klein e a mídia livre de Democracy Now: http://www.democracynow.org/2011/10/6/naomi_klein_protesters_are_seeking_change.


Mas o mundo vai explodir mesmo quando os cidadãos chineses e indianos começarem a botar a boca no trombone e saírem às ruas para exigir a parte do bolo financeiro que lhes é devido.

Os excluídos do enriquecimento da Índia

Os excluídos do enriquecimento da China
 A Índia, um dos nossos "concorrentes/amigos" do BRIC, tem um número de pobres tão alto e em crescimento tão incontrolável que, embora houvesse abandonado há anos os parâmetros do Banco Mundial - renda mínima de U$38 mensais - baixou seu critério nacional ainda mais, a fim de não assustar investidores maquiando os dados reais e para não aumentar os gastos com sesta básica.
Vai diminuir os U$12.75 que estabeleceu como piso para os moradores de cidades e os U$9.93 da zonal rural para "enriquecer", em seus parâmetros, parte dos 27% da população (a porcentagem chinesa oficial é a mesma) que vivem abaixo deste sofrível critério de solo de pobreza e evitar um acréscimo chocante.
Nos parâmetros do Banco Mundial, 41.6% (37% - 1.35) dos indianos vivem abaixo do solo de pobreza. Ou seja, por volta de 1.5 bilhões de indivíduos. 1.1 bilhões não dispõem de saneamento básico e/ou de água potável.
Os slums indianos são muito mais miseráveis do que as favelas brasileiras e tão insalubres quanto as chinesas. Nos slums indianos morrem dois milhões de crianças por ano de doenças relacionadas com má  nutrição.
Na China, país que virou de ditadura socialista para ditadura capitalista selvagem, não há estatísticas, por razões óbvias.
A super-população e a desigualdade social crescente destes dois países do BRIC são uma bomba relógio que não se pode negligenciar na equação econômica do futuro.

Recente relatório da ONU indica que nos últimos dez anos
o número de favelados no Brasil diminuiu em 16% 
A título de comparação entre Índia, Estados Unidos e Brasil, segundo os parâmetros do Banco Mundial, 8.5% da população brasileira se encontra em estado decrescente de pobreza.
Nos últimos dez anos, 12.8 milhões de brasileiros saíram do estado de pobreza e 13.1 milhões saíram do estado de deep poor, ou seja, de indigência. Segundo a definição brasileira (superior à do Banco Mundial) estabelecida pelo IPEA - menos de U$140 de renda mensal para pobre e de U$70 para indigente.
A renda dos 50% mais pobres aumentou 50% nos últimos anos e a dos 10% mais ricos 10%.
O crescimento desigual de renda tupiniquim registrado em 1990, por exemplo, foi de 0.61%. A deste ano foi de 0.53%.
Se o Brasil prosseguir a política de erradicação da pobreza neste ritmo, estima-se que a miséria desaparecerá em 2016 e "apenas" 4% da população do nosso país viverá abaixo do solo de pobreza. No mesmo ritmo e com a mesma política, dentro de 15 anos veremos a erradicação total desta vergonha socio-moral nacional da nossa consciência.
Durante os mesmos anos em que o Brasil vem procedendo a uma melhor distribuição da riqueza que o país promove, a desigualdade de renda entre a população rica e pobre nos nossos parceiros do BRIC - Rússia, Índia, China - em vez de baixar vem crescendo.

As maiores favelas do planeta


Como o mundo não se resume aos cidadãos indignados com os estragos do capitalismo, no Oriente Médio, uma troca de prisioneiros é a grande notícia.
Quanto vale um israelense em 2011?
Vale 1.027 palestinos – A média desde que estou na ativa é de 1.300 por 1.
Nestes últimos trinta anos, sete mil prisioneiros palestinos foram trocados por dezenove prisioneiros israelenses.
Em 1985, 1.150 palestinos foram trocados por três soldados capturados no Líbano; em 1998, 65 membros do Hezbollah vivos e 40 mortos pelo cadáver de um soldado, e assim por diante.
Acho que foi baseado nesta conta que a indignação pública foi acanhada quando do bombardeio e invasão de Gaza em 2009 em que mais de 3.500 gazauís foram assassinados. No final das contas, como morreram 13 soldados israelenses (a metade por fogo amigo), nesta lógica ilógica, Israel teve 10 mortos a mais do que os palestinos.
Agora sim, eu entendo.
O que eu não entendo é como, com todos os meios de comunicação sofisticados dos quais dispõem o Pentágono e Tel Aviv, nem um nem outro conseguiu descobrir onde o soldado Gilad Shalit estava preso. É um enigma.
Shalit talvez desvende este grande mistério aos jornalistas que nunca pensaram em fazer às autoridades israelenses esta simples pergunta: vocês são incompetentes ou ele não está mais em Gaza, foi levado por um túnel para o Egito... Quem sabe?
Onde quer que estivesse o soldado franco-israelense, Israel sofreu uma derrota militar.
Bombardeia, tem tecnologia para ver o que está na cara e o que está camuflado, mas em cinco anos não conseguiu descobrir onde estava um de seus soldados.
Parece incrível.
A não ser que o Golias do século XXI que está enjaulado na Faixa de Gaza tenha aprendido direitinho a lição de David.

Khaled Meshal, Gilad Shalit, Binyamin Netanyahu
No frigir dos ovos a operação numérica da troca de prisioneiros: Gilad Shalit contra 1.207 pessoas do outro lado do muro foi um sucesso de mídia. E como toda operação David, esta também foi espertinha.
Israel resolve parcialmente o problema de suas prisões superlotadas e mostra, mais uma vez, que a vida de um compatriota vale muito mais do que a de qualquer outro homem que respire.
A OLP chamou a atenção para o fato de nenhum dos nomes da lista ter grande relevância política e é verdade que dela não consta nenhum dos intelectuais que poderiam acrescentar algo à causa Palestina.
Israel vai receber seu soldado e entregar simultaneamente 477 palestinos (450 homens e 27 mulheres), na terça-feira, em várias localidades: checkpoints na Cisjordânia, No man’s land em Gaza;, os demais serão deportados.
A má notícia é que parece que só 313 poderão retornar ao lar. Cento e dez serão devolvidos na Cisjordânia e 203 em Gaza. Os demais serão deportados para a Turquia e países europeus em que deverão obter estatuto de refugiado na chegada, já que não dispõem de identidade nacional e nem passaporte que permita que residam no exterior na legalidade.
O grande vitorioso do negócio parece ser o Hamas, que conseguiu 90% do exigido. E os nomes que sobressaem são os de Khaled Meshal, seu líder político, que já está no Cairo desde quarta-feira passada para providenciar a troca, e de Murad Muwafi, chefe do Serviço de Inteligência (ex-Secreto) do Egito.
A operação é espetacular, mas não contribui ao processo de paz a curto, médio e longo prazo.
Dos nomes que constam da lista de prisioneiros a serem libertados, quatro são militantes-militares do Hamas. Ahlam Tamimi, jornalista convertida em militarista, ajudava na escolha de locais para os bomba-suicidas atacarem e os acompanhava pessoalmente até o lugar fatídico; Mohammed al-Sharatha, é um dos líderes das forças especiais 101 do Hamas e responsável pelo assassinato de dois soldados israelenses em 1989; Nasser Iteima, dirigiu o atentado contra o hotel Netanya em 2002; Walid Anjes, dirigiu o atentado contra o Café Moment em Jerusalém no mesmo ano.
Um dos nomes cuja ausência da lista todos lamentam e que faria diferença é o de Marwan Barghouti. Um dos grandes, se não o maior, cérebro do Fatah e um líder carismático da OLP que poderia ajudar, e muito, no processo de reconciliação com o Hamas.
Deve ser por isto que vai continuar atrás das grades.


Ainda restam cerca de seis mil palestinos detidos em 22 prisões em Israel e na Cisjordânia.
Dentre eles, cinquenta prisioneiros políticos fizeram greve de fome no mês passado contra as más condições de dentenção.
Eles não têm acesso a livros, nem a programas educacionais ou mudas de roupa.
Os que são autorizados a visitas esporádicas de familiares, os encontram algemados.
Muitos passam até cinco anos sem nenhum contato com a família ou o mundo externo e o número de prisioneiros confinados em solitárias tem aumentado bastante.
Uma das razões de Israel ter concordado em libertar um número tão alto, além do valor relativo da vida... pode ser a lotação excessiva de seus cárceres. Pois além dos seis mil prisioneiros políticos palestinos ainda tem os prisioneiros comuns israelenses.
Como em todos países, em Israel também tem muito bandido, de colarinho branco e sem colarinho.

Professor Noam Chomsky fala sobre Occupy Wall Street


"The intellectual tradition is one of servility to power, and if I didn't betray it I'd be ashamed of myself.
It makes sense to work towards a better world, but it doesn't make any sense to have illusions about what the real world is.
Israel's military occupation is] in gross violation of international law and has been from the outset. And that much, at least, is fully recognized, even by the United States, which has overwhelming and, as I said, unilateral responsibility for these crimes. . . . On December 5th [2001], there had been an important international conference, called in Switzerland, on the 4th Geneva Convention."
Noam Chomsky

Lista de produtos das colônias a serem boicotados:
http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
http://www.bigcampaign.org/


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