domingo, 12 de fevereiro de 2012

Israel vs Palestina na Faixa de Gaza: Divide ut regnes


No ponto em que chegamos na história do conflito Israel vs Palestina,  uma digressão paralela pela Faixa de Gaza e as fundações do Hamas é necessária.
Neste parêntese entre o capítulo V e VI vamos ver primeiro a geografia da Faixa.
O território é um enclave de 5 a 12 quilômetros de largura e 40 de comprimento, mais um perdido com soldados da IDF e a No Man's Land de Erez Crossing.
"Enclave" tem origem do latim enclavatus que significa "trancado".
"Enclave" em geopolítica é um território sob soberania de um principal do qual é separado por fronteiras alheias - a Faixa é cortada da Cisjordânia por fronteira de 51 km de arame farpado com Israel e 11km com o Egito.
Considerando o estado de sítio em que vive a Faixa, enclavatus seria palavra mais adaptada do que "enclave", consonante com o Vaticano, mas dissonante neste caso.
Entrar na Faixa é uma via crucis.

Os aeroportos mais próximos são Ben Gurion de Israel e El Arish do Egito, já que o aeroporto palestino Yasser Arafat, após ser interditado, foi várias vezes bombardeado e hoje é ruína.
O visitante precisa de visto da Embaixada israelense de seu país de origem.
Em teoria pode demorar de 5 a 10 dias.
Na prática, meses.
E se você não for jornalista credenciado ou membro de ONG humanitária sua chance de entrar é mínima.

Ao turista curioso ou interessado que se aproxima do Erez Crossing, os soldados não dizem que a entrada é proibida para que você não veja a que os gazauís estão reduzidos. Dizem com veemência que lá dentro tem 1 milhão e meio de terroristas prontos para reduzi-lo a pedaços...
A fronteira com o Egito hoje é uma opção válida e talvez para o cidadão comum que queira ver com os próprios olhos a vida na Faixa este caminho seja menos complicado.

Além de Erez tem mais dois checkpoints de entrada e saída.
Os únicos palestinos autorizados a atravessar um dos três são os que possuem passaporte estrangeiro, que provem necessitar de tratamento médico inacessível na Faixa ou os jovens que saem para fazer faculdade em cidades e países onde estas são edifícios acadêmicos e não alvos.
E estas autorizações levam tempo. Muito tempo. Muuuuito tempo.

Jornalistas com GOP (Governement Press Office) podem entrar e sair à vontade.
Os demais dependem de credencial, cara, origem, e boa vontade do oficial da IDF de guarda.
Após passar a revista de um primeiro soldado na mira dos guaritas, encontra outro em seguida e depois caminha os mil metros de No man's land pior do que a de Berlim durante a Guerra Fria.
No fim deste túnel tem uma casinha que é outro checkpoint que pode ser ignorado na entrada, mas jamais na saída.
Aí é bom pegar táxi - nem que seja para ajudar na economia gazauí - até o controle oficial de entrada, feito pelo Hamas. Neste não tem arma à vista.
Em seguida você pode pegar táxi ou ser recolhido pelo seu contato (que nós jornalistas chamamos de fixer).
Todo o território é devidamente vigiado por zepelins que rondam noite e dia.
Bem-vindo à maior prisão do planeta!

Geograficamente, a superfície é quase toda plana, ao contrário da Cisjordânia que é enfeitada de colinas, umas matas e o Jordão inacessível; e a terra em grande parte é arenosa e árida.
A população vive da pesca (hoje restrita ao mínimo), do cultivo e produção de oliva e azeite (uma delícia orgânica) e de legumes e frutas orientais.
A população é de mais de 1 milhão e 600 mil habitantes, dentre os quais, mais de um terço são refugiados.
A taxa de natalidade é alta, as mulheres têm uma média de cinco filhos. 
A religião predominante é muçulmana sunita, com um por cento de cristãos.
A Faixa é dividida em cinco distritos.
O do Norte é composto de cinco cidades.
A principal é Beit Hanoun, berço do rei palestino Hanoun, no século VIII AC.
Hoje 90% de seus habitantes são refugiados.
Foram os primeiros alvos dos bombardeios israelenses de 2008 (em que uma única família perdeu 18 membros em uma noite) e muitas casas ainda estão em ruínas devido ao bloqueio que a priva do básico.
Depois do Norte vem o município principal da Faixa.
Contém cerca de 800 mil habitantes dentre os quais 70% têm menos de 25 anos.
Lá está a capital Gaza. Onde nasceu o lendário Golias e onde Sansão caiu na armadilha da patriota Dalila e perdeu madeixas e vida.
Gaza é uma das cidades mais antigas do planeta. Tem cerca de 5.000 anos.
Na Idade do Ferro, era a capital da "Pentapólis Palestina" do século XII AC, que consistia de cinco cidades em um território chamado "Canaanita", cuja autonomia foi recuperada dos egípcios.
Compreendia quase tudo o que antes de 1948 era a Palestina, incluindo a Samaria e excluindo a Galileia.
Alexandre, o grande conquistador macedônio, lutou 5 meses antes de conseguir ultrapassá-la para chegar ao Egito.
(E pensar que após resistir tantos milênios ao assédio de egípcios, assírios, Alexandre, otomanos, todo este patrimônio histórico tem sido destruído paulatinamente por bombas sem nenhum escândalo...)

Depois de Gaza vem Deir al-Balah, com a cidade homônima e quatro campos de refugiados que abrigam 209 mil pessoas.
O seguinte é Khan Yunis, de cerca de 280 mil habitantes em três cidades.
E no fim, na fronteira com o Egito, está Rafah. Onde os gazauís cavam os túneis por ondem contrabandeiam gêneros alimentícios e de primeira necessidade proibidos pelo bloqueio, e raramente, armas.
Sem os túneis os gazauís teriam morrido de fome há dois anos, pois é por eles que conseguem gêneros tão perigosos quanto papel higiênico. 
Rafah conta cinco cidades e dois campos de refugiados em um total de 175 mil habitantes.
É lá que estão as ruínas do aeroporto Yasser Arafat, há anos interditado, e o portão para o Egito.

Um parêntese sobre a particularidade dos refugiados palestinos.
Não vivem em tenda como os demais.
É o único povo que conheço que onde quer que seja deslocalizado, chega, constrói casa e arruma estudo para os filhos; até ter escolas, improvisam aulas para a educação não parar.
Daí o maquiavelismo dos ocupantes de proceder à destruição moral sistemática através dos caterpillars e dos checkpoints que interditam acesso aos estabelecimentos escolares.

Antes da Naqba em 1948, a Faixa tinha uma vida normal e tranquila.
Os gazauís pescavam em abundância, tinham comida, lavoura, estudo, saúde e trabalho.
Os milhares de refugiados que chegaram das localidades distantes e vizinhas foram se instalando como podiam, apertando-se, mas com boa vontade iam levando.
Em 1967 Israel invadiu a Faixa que até então nem David conseguira penetrar quando derrotou Golias com seu estratagema pouco recomendável.
Depois da invasão militar instalou 41 invasões de civis (em cinza, na foto abaixo) tomando 20% da terra, ou seja, 10km dos 50, e confiscando outras tantas por "medida de segurança"..
Os caterpillars botaram casas milenares abaixo para construir apartamentos novinhos para os colonos judeus importados; a IDF desapropriou camponeses locais das terras mais férteis que cultivavam há séculos, e os recém-chegados ocuparam as cidades como se fossem seus legítimos proprietários. Enfim, como se os invasores fossem os nativos.
A pouca água da Faixa era canalizada para estas 41 colônias enquanto os proprietários consumiam a que sobrava, cada vez menos potável.
Os colonos humilhavam e agrediam os gazauís sempre que tivessem oportunidade, e os soldados da IDF só olhavam, como continuam a fazer na Cisjordânia.
A situação estava neste ponto quando explodiu a Intifada.
A precariedade e a frustração dos gazauís só aumentava de ver que o mundo sabia e ignorava.

Enquanto as autoridades políticas, militares e secretas de Israel perseguiam e executavam elementos proeminentes da OLP e do Fatah a fim de acossar Yasser Arafat - que não perdoavam pelos ataques das décadas de 60 e 80 - na Faixa de Gaza fomentavam, indiretamente, um compatriota adversário.
Israel aplicava a célebre teoria do imperador romano Júlio César, retomada por Napoleão em suas bravatas na Europa: Divide et impera e Divide ut regnes - Dividir para reinar.
A liderança secular do Fatah incomoda?
Que floresça um rival religioso que a enfraqueça e divida os árabes!
Foi assim que o Movimento de Resistência Islamita, cujo acrônimo é conhecido como Hamas, foi se legitimando e fagocitando as lideranças laicas do Fatah na Faixa.

Tudo começou como uma organização de caridade, Mujama al-Islamiya, que construia escolas, hospitais, instituições religiosas e cuidava dos gazauís como a Igreja católica, em maior escala, cuidava dos cristãos nos primeiros séculos construindo em volta das igrejas um complexo humanitário com hospital, escola, universidade que cuidasse do físico, do intelecto e da alma das comunidades.
O responsável desta Organização caritativa islamita era o Sheikh Ahmed Yassin, líder religioso sunita que representava a Irmandade Muçulmana na Faixa.
Yassin era um dos milhares de refugiados deportados para Gaza.
Era originário de Al-Jura, cidadezinha palestina de 2.420 habitantes, cristãos e muçulmanos, que foi riscada do mapa pelas Forças para-militares israelenses junto com a vizinha Majdal, no dia 30 de outubro de 1948. Durante a Naqba.

Yassin tinha 11 anos quando assistiu ao massacre de concidadãos e viveu desmoronamento próprio e figurado da vida livre, segura e despreocupada que até então havia levado.
Quando foi enxotado junto com os demais sobreviventes dos escombros de Jura e Majdal e empurrado abaixo para a Faixa de Gaza, da noite pro dia, literalmente, ficou apátrida, seu mundo virou de cabeça pra baixo e passou a ser cercado de muro e arame farpado.
Seus movimentos eram monitorados e sua situação doravante seria precária, como a de todos os outros habitantes do campo de refugiado em que foram parar.
No ano seguinte sofreu um acidente que o deixou quase cego e tetraplégico, mas estudou mesmo com dificuldade até terminar o Ensino Médio.
De Gaza foi para a Universidade al-Ahar, no Cairo. Uma das mais antigas do mundo. Fundada em 969, a partir de 988 focada em Estudos Islâmicos, e desde 1961, uma universidade pluridisciplinar, mas tida como a mais alta autoridade em Islamismo sunita dos países árabes.
Seus estudos religiosos serviram para aplacar um pouco do ressentimento e canalisá-lo para obras humanitárias, porém, a mágoa continuava lá, firme, forte e transbordante no quotidiano de humilhações impostas pelos colonos na Faixa - uma das distrações destes era despejar lixo e excrementos pela janela, ao ponto dos nativos terem sido obrigados a cobrir a feira com redes de pesca para evitar pelo menos os detritos sólidos despejados pelos vizinhos debochados.

Para completar o sentimento de injustiça e abandono, desde 1950 Yassin e os demais refugiados de Jura e Majdal viam erguer-se novas casas nas ruínas em que os bombardeios e buldozers haviam reduzido as que moravam, e assistiam de longe à chegada de centenas de imigrantes judeus que ocupavam as terras de seus ancestrais na nova cidade agora chamada Ashkelon, ao lado.
E a frustração da impotência frente ao ocupante crescia, subterrânea, enquanto na superfície sua popularidade aumentava.

Foi figura presente nas ruas da Faixa e suas obras caritativas o tornaram uma personalidade cuja aura só rivalizava com a de Abdel Shafi e só perdia para Yasser Arafat.
Mas Arafat estava longe, ilhado, e seus representantes nos Territórios Ocupados eram vigiados, presos ou executados pelo Shin Bet e o Mossad que deixavam religiosos locais ganharem espaço, contanto que combatessem o Fatah e Yasser Arafat.
Foi este vácuo elaborado que Yassin ocupou de bom grado. Gozava inclusive de relação cordial com Yitzhak Segev, governador israelense da Faixa. Ao ponto de em 1979 este facilitar a hospitalização de Yassin em Tel Aviv.
Durante anos o Shin Bet e o Mossad fecharam os olhos às obras de caridade do Mujama.
Até receberem informação que Yassin estava recebendo armas e encontrarem um punhado delas, escondidas em uma mesquita.
Yassin foi preso em 1984, mas quando disse que o arsenal era para usar contra o Fatah, foi libertado no Acordo de Jibril, em que 1.150 prisioneiros palestinos foram trocados por três soldados israelenses detidos pela ala dissidente da OLP, a Frente Popular de Libertação da Palestina.
Yassin foi solto e continuou suas obras de caridade, e as demais.
Hoje as autoridades israelenses juram de pé junto que deixaram Yassin crescer por negligência e que nunca financiaram nem armaram o Hamas...
Mas Robert Fisk, o "papa" do jornalismo do Oriente Médio, conta que no início da década de 1990, em conversa com um membro do Hamas em Beirute, este lhe ofereceu o número de telefone de Shimon Peres... "E como você tem o número dele?!" Porque estamos em contato frequente com autoridades israelenses.
Foi a resposta, no mínimo, surpreeendente.
Eu mesma já ouvi a seguinte frase baseada em outra história do gênero: "Dizem que o Hamas foi criado pelo Serviço Secreto Israelense.
O mais plausível é que o Serviço de Inteligência de Israel o tenha infiltrado como o MI6 britânico infiltrou o IRA em um grau considerável.
Como se sabe, terrorista para uns é combatente pela liberdade de outros."
A história da resistência contra os nazistas na Segunda Guerra está aí para provar.
O fato é que o Hamas, parte ativa de uma guerra contemporânea em que para uns é terrorista e para outros resistência legítima, nasceu na Intifada.
Cercados na Faixa de Gaza e vendo os membros do Fatah sendo um por um detidos ou assassinados e as universidades e escolas seculares sendo fechadas, os alunos da Universidade Islâmica, patrocinada pelo Mujama, foram atrás da autoridade religiosa que conheciam desde criança e que viam como única liderança local atuante. 
Pediram ajuda ao Sheikh Ahmed Yassin para guiá-los na Intifada e ele respondeu presente.
O Hamas foi oficializado e começou a atuar no mesmo ano distribuindo panfletos que acusavam o Mossad de corrupção dos jovens que transformava em delatores.
Os atentados militares começaram em seguida, mas ninguém do partido foi incomodado.
Tel Aviv e Ariel Sharon em particular, continuavam obsidiados por Yasser Arafat sem conseguir digerir as ações militares da OLP e do Fatah - aliás, o ódio de Sharon por Arafat era pessoal e doentio.
Foi pelo rancor cegante que fizeram vista grossa às obras de Yassin até 1989.
Nesse ano, Yassin seria rotulado de terrorista, após um atentado que matou dois soldados da IDF, e por causa da Carta belicosa do Hamas.
Esta declarava guerra a Israel (substituindo assim em palavras e atos a Carta do Fatah, criada com o mesmo propósito e pelas mesmas razões em 1959 e que a OLP aposentara em dezembro de 1988).
Yassin foi então detido com alarde e herdou o rótulo de terrorista que Arafat perdera ao renegar a resistência armada.
Apesar disto, Tel Aviv continuaria sem nenhuma vontade de negociar com o líder da OLP e com Haidar Abdel Shafi, o médico nascido em Gaza em 1919.
Shafi teria podido  dar um rumo laico ao Conflito, embora o pai tivesse sido oficial do Alto Conselho Islâmico. Estudou em Jerusalém e em Hebron, fez Medicina na Universidade Americana de Beirute, especializou-se em cirurgia na Universidade de Ohio, tinha vivência internacional, era fluente em inglês, laico, e era o único líder local nascido e criado em Gaza em uma família de intelectuais.
Aderiu ao Exército Britânico do Deserto em 1944, mas nunca deixou a Palestina. No fim da Segunda Guerra montou consultório em Gaza e lá moraria até a morte, em 2007.
Em 1948 atendeu centenas de concidadãos feridos e foi seu trabalho nos anos seguintes com refugiados que o levou à vida pública.
Quando constituiram um Parlamento na Faixa em 1962, ele foi eleito deputado, foi nomeado porta-voz dos parlamentares e representou Gaza no processo de criação da OLP em 1964. Representou-a na Faixa até 1967. Era tido como de Esquerda, mas foi sempre independente politicamente e religião para ele não era posição política partidária, mas pessoal e privada.
Em 1969, Moshe Dayan, então Ministro da Defesa, o baniu de Gaza durante três meses por recusar-se a cooperar com o ocupante e o deportou brevemente para o Líbano no ano seguinte.
De volta a Gaza ele fundou e dirigiu a Sociedade Palestina do Crescente Vermelho, que é um forum cultural e ministra cuidados médicos gratuitos como os da Cruz Vermelha
.
Quando começou a Intifada em 1987, usou sua autoridade para reunir as facções rivais e organizar o movimento na Faixa. Era respeitado pelas lideranças e membros do Fatah e do Hamas.
Foi o primeiro palestino a expor o drama de seu povo ao público estadunidense no programa da ABC Nightline. Sua influência foi grande até a Conferência de Madri, da qual foi o participante mais eminente.
Entretanto, sua divergência de ponto de vista com Yasser Arafat o deixou fora das negociações de Oslo para as quais havia contribuído, e por causa disto foi sendo levado ao ostracismo político, deixando o caminho livre para Yassin na Faixa.
Arafat tinha muitas qualidades, mas tinha alguns defeitos que foram nocivos à sua causa.
Um deles era o "centralismo democrático" que o levava a afastar de si quem discordasse de seu ponto de vista e a puxar o tapete de quem brilhasse mais.
Foi por causa disto que em 1996 Shafi, eleito para o Conselho Legislativo da Palestina, retirou-se da sessão em protesto à proposta de Arafat de reconhecer o Estado de Israel.
Foi seu último ato político.
Sua posição era mais ou menos a mesma do Hamas ou a do Hamas é mais ou menos a dele.
Shafi dizia que a presença judia era uma realidade que tinha de ser reconhecida, mas o reconhecimento tinha de ser recíproco.
Este debate ainda é de atualidade e de peso.
Mas voltando ao conto Gazauí-Hamasiano que precede Oslo, estávamos no capítulo em que Ahmed Yassin foi condenado à prisão perpétua e mais tarde deportado com 400 membros do seu Movimento.
Deixou na Faix a estrutura do Hamas já consolidada e tão ou mais integrada do que o Fatah, que vinha sendo paulatinamente estropiado.

Em 1989, quando Shafi tinha 70 anos e Yassin cinquenta e algo, Ismail Haniyeh, o atual Primeiro Ministro da Palestina e líder político do Hamas na Faixa, tinha 26 anos.
Como Yassin, as raízes ancestrais de sua família também eram fora da Faixa.

Seus pais eram refugiados desapropriados da mesma Majdal em cujas ruínas Israel construiu a cidade de Ashkelon para judeus imigrados.
Haniyeh nasceu e cresceu no campo de refugiados al-Shati, no distrito de Gaza, formou-se em Literatura, e participou ativamente, como milhares de jovens gazauís, da Intifada.
Foi preso três vezes durante a insurgência.
Na última, em 1992, foi deportado para o Líbano com Yassin...
Em 1993 voltou para Gaza com 30 anos como reitor da Universidade Islâmica e como membro proeminente do Hamas.
Haniyeh não é nenhum bárbaro. É culto e inteligente. As circunstâncias ditariam seu ativismo "musculoso".
Durante a ausência da liderança exilada, a ala militar do Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, continuariam a conduzir ataques contra Israel causando vítimas civis e militares.
As iniquidades impostas aos cidadãos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza só aumentavam e a palavra de ordem era Liberdade: "O custo não importava, pois já considerávamos ter pago o mais caro, que era a nossa terra e não queríamos perder a dignidade," diz um membro da então resistência armada.
E o massacre de al-Aqsa só fez crescer a popularidade do Hamas, que aos olhos dos Palestinos desfalcados da liderança do Fatah e da OLP, ainda confinada a Tunis, parecia ser o salvador da Pátria.
Apesar das desavenças internas e a impopularidade internacional do Hamas, que fique claro que seus líderes não são nenhuns salafistas fanáticos. São pessoas muito mais abertas e instruídas que os atuais governantes de Israel.
Sou contra a violência, mas sou obrigada a admitir que os atos do Hamas são de resistência.  Resistem como podem para que seu povo sobreviva e que possa viver em liberdade e de cabeça erguida.
O mesmo que desejavam os "subversivos" da época das ditaduras bárbaras na América Latina.
Por mais que eu descorde dos métodos bélicos aos quais o Hamas recorre, que fique claro, o Hamas não é uma organização terrorista. É um partido legitimado pelo voto popular em 2006. Um partido cujos dirigentes são estudados e preferem o combate verbal ao das armas. Mas sob ocupação e vivendo em uma prisão, é difícil manter a calma.
Dito isto, a maioria absoluta dos gazauís quer é viver como gente, e em paz.
Com a eleição de Yitzak Rabin e seu discurso conciliatório pragmático, renasceria esperança nos moderados de ambos os lados.
"Esperávamos que Rabin, com a sabedoria conquistada após muitas batalhas em que o ódio era a arma fatal, se sentasse com Arafat e negociasse uma paz perene baseada na proposta feita pelo Israel Council for Israeli-Palestinian Peace (ICIPP) em 1976. E finalmente alcançássemos uma convivência pacífica com os palestinos em dois Estados," disse um dos poucos pacifistas israelense, esperançoso que a os Acordos de Oslo em 1993 resolvessem algo.
Amarga ilusão. Os Acordos seriam assinados, mas daí a decidir a resolverem algo... Os termos e a aplicação (ou não) dos mesmos, veremos na próxima etapa.


Documentário: Gaza Ghetto, retrato de uma família palestina
De Pea Holmquist, Joan Mandell, Pierre Bjorklund
Produzido em 1984, segue a vida de uma família de refugiados palestinos que tenta manter suas tradições e viver normalmente no confinamento de muros e arames farpados.




"The Vietnamese who have endured years of American heavy bombing have responded not by capitulation but by shooting down more enemy aircraft.
In 1940 my own fellow countrymen resisted Hitler's bombing raids with unprecedented unity and determination.
For this reason, the present Israeli attacks will fail in their essential purpose, but at the same time they must be condemned vigorously throughout the world."Bertrand Russel

Inside Story: Hamas x Fatah


Debate de Doha entre o Hamas e o Fatah

Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;

Nenhum comentário:

Postar um comentário